21/09/2015
Desde o último dia 15 de setembro, o plantio da soja já está autorizado nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, porém, os trabalhos de campo ainda não foram efetivamente iniciados já que faltam chuvas suficientes para isso. E segundo as últimas previsões, as precipitações para a região Centro-Oeste devem chegar somente no final da semana e ainda de forma localizada e não regular.
"Há previsões de chuvas para depois do dia 25, porém, muito irregulares. A partir daí, a frequência começa a ficar melhor, mas ao longo de toda esta segunda quinzena de setembro e todo o mês de outubro serão sempre chuvas muito irregulares. Então, este ano, devido a este El Niño, que tem deixado a atmosfera bastante quente, com temperaturas bastante altas, as maiores chuvas ficarão mais concentradas no Sul do Brasil, principalmente Rio Grande do Sul e Santa Catarina", explica Marco Antônio dos Santos, agrometeorologista da Somar Meteorologia.
Previsão do Tempo de 21 a 25 de Setembro - Fonte: Somar Meteorologia
Previsão do Tempo de 21 a 25 de Setembro - Fonte: Somar Meteorologia
Dessa forma, a expectativa dos produtores, reforçada pela orientação do agrometeorologista, é de que o plantio aconteça, nesta temporada, de maneira mais escalonada, aproveitando essas precipitações, já que elas não serão aquelas chuvas chamadas de "plantadeiras". Assim, as decisões terão que ser bastante planejadas.
"O produtor tem que plantar nas áreas que têm boa umidade, boa estrutura de solo, com maior percentual de argila, para que caso venha a ocorrer um pequeno veranico de 10 a 15 dias, ele não perca esta planta", diz Santos, completando a orientação dizendo da importância de se prevenir, com essa escala do plantio, do corte das chuvas.
O presidente do sindicato rural de Sinop, em Mato Grosso, Antônio Galvan relata um quadro bastante semelhante a este. "Estamos somente esperando pelas chuvas. As chuvas esperadas não são para plantio, porque não são regulares ainda", diz.
Galvan explica ainda que a preocupação fica ainda atento ao tempo ideal para os trabalhos de campo, uma vez que, plantada mais tarde, a soja começa a perder seu potencial produtivo, como aconteceu na temporada anterior, além de perder a janela ideal para as safras de inverno.
"No ano passado, muita gente começou a plantar entre 24 e 25 de setembro e foi até 6 de outubro, quando as chuvas cortaram, e retomaram no dia 20 de outubro, isso pode acontecer de novo este ano. E ainda no ano passado, as lavouras que foram plantadas mais tarde perderam um pouco de produtividade, ficaram mais ralas, mas nada muito sério", diz o presidente.
Em contrapartida, no Paraná, onde o vazio sanitário também terminou em 15 de setembro, o plantio da nova safra de soja já começou em algumas regiões. Em Itambé, por exemplo, os trabalhos de campo foram estimulados pelas chuvas recentes, o que garante um bom período para o plantio do milho safrinha.
"Com isso, temos conseguido produtividade excelente e plantamos o milho mais cedo. E podemos nos livrar de uma possível geada no cereal. A expectativa é que até o final do mês cerca de 50% da área já tenha sido semeada com a soja", diz Valdir Fries, produtor rural do município.
Os próximos dias na região deverão ser de tempo ligeiramente mais seco, o que também pode contribuir para o desempenho das máquinas no campo, com as chuvas voltando com mais força entre outubro e novembro.
"Vamos ter a segunda quinzena de setembro bastante chuvosa no sul do Brasil, o que vai atraplhar a colheita do trigo, o plantio do arroz, do milho nas áreas afetadas por geadas. Então, teremos chuvas mais frequentes. Mas, em outubro, devido a essa volta das chuvas mais frequentes no Sudeste e Centro-Oeste, as do Sul ficam menos volumosas, sem grandes períodos de invernada como está acontecendo agora", explica Santos.
O estado paranaense também deve contar com chuvas mais irregulares, como acontece no Sudeste do Brasil, ainda segundo o agrometeorologista da Somar, com condições melhores de plantio para cidades como Cascavel, Palotina, Toledo, Foz do Iguaçu, como acontece no sul de Mato Grosso do Sul. Por outro lado, de Campo Grande/MS para cima e Palotina/PR para cima, o padrão deve ser mais parecido com o Centro-Oeste e Sudeste. "Ou seja, chuvas chegando, mas irregulares, porém, com boa frequência".
Em Mato Grosso, ainda de acordo com Antônio Galvan, a preocupação do setor produtivo se volta ainda para os elevados custos de produção - principalmente por conta de um dólar que segue em alta - e dos preços ofertados pelos compradores que, em algumas regiões do estado já não cobrem esses custos.
"Hoje, em algumas áreas, o custo de uma saca de soja chega a passar de R$ 70,00 e o comprador quer pagar R$ 60,00. Os negócios estão parados, não acontecem neste momento", diz. "E a situação é ainda mais difícil para o arrendatário, que enfrentou mais barreiras neste ano para conseguir seu financiamento", completa. Assim, para o presidente do sindicato de Sinop, um aumento de área prevista no estado não deve se confirmar, e pode haver, inclusive, uma redução nesta temporada em função deste quadro.
Por outro lado, a perspectiva é melhor para os sojicultores de regiões onde seus custos estão, a maioria, fechado em reais, uma vez que a alta da moeda americana torna o produto brasileiro ainda mais competitivo. Reflexo disso foram as boas compras de soja do Brasil feitas pela China em agosto, que superaram em mais de 20% o volume do mesmo mês de 2014.
Nesta segunda-feira (21), o dólar registrava uma nova sessão de alta e já se aproximava dos R$ 4,00. Segundo especialistas, esse ganho se dá frente a um cenário interno ainda gerando muita preocupação e especulação entre os investidores. Além disso, há ainda a possibilidade de mais agências de classificação de risco retirarem do Brasil o selo de bom pagador, trazendo ainda mais pressão sobre a economia nacional. Por volta das 11h50, a divisa subia 0,71% para R$ 3,983.
Ainda nesta segunda, o Boletim Focus - reporte semanal com a pesquisa com mais de 100 instituições financeiras - trouxe perspectivas ainda piores para o quadro brasileiro. Para este ano de 2015, se espera uma redução de 2,7% do PIB (Produto Interno Bruto), contra 2,55% da semana passada. Para o ano que vem, a retração esperada é de 0,8%. Paralelamente, a inflação esperada é de 9,34% para 2015 e, para 2016, 5,70%.
Por: Carla Mendes
Fonte: Notícias Agrícolas