04/09/2015
Às vésperas do início do plantio da nova safra brasileira de soja, as entregas de fertilizantes estão bastante atrasadas e já preocupam muito os produtores, principalmente aqueles que estão no Centro-Oeste do país. O vazio sanitário se encerra no próximo dia 15 de setembro nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, São Paulo e Rondônia. E, até esse momento, Mato Grosso, que é o maior produtor nacional da oleaginosa, é o mais afetado. Em algumas localidades, a situação já leva lideranças a acreditarem que um aumento de área que vem sendo projetada para o estado não possa não se confirmar.
Segundo o diretor da consultoria Custo do Agro, Eduardo Lima Porto, as entregas de fertilizantes estão de 10 a 15% menores do que o registrado no mesmo período do ano passado. Assim como acreditam também outros analistas, esse quadro é resultado de dificuldades na aquisição de crédito para o custeio da safra e, consequentemente, as compras terem sido feitas mais tardiamente nesta temporada, além dos já conhecidos gargalos da logística nacional.
"Isso significa que o produtor irá plantar com menos adubo e manterá a área cultivada. O pacote tecnológico do ano será menor, justamente num período de El Niño, que poderá ser forte para o Centro-Oeste com muita seca e bastante chuvoso no Sul", diz o executivo.
Além disso, Porto acredita ainda que os sojicultores se depararam também com um quadro de indefinição diante da volatilidade dos preços da commodity praticados na Bolsa de Chicago e da taxa cambial. No mercado futuro norte-americano, as cotações vêm sendo duramente influenciadas por um financeiro turbulento e pelas perspectivas de uma grande safra dos EUA. No dólar, a latente instabilidade política e econômica do país fizeram a divisa bater nos R$ 3,70 nesta última terça-feira (1).
"O grande problema do ano é a falta de crédito e o encarecimento (dos insumos) na ponta. Há uma imprevisibilidade causada na cadeia e o produtor é apenas um elo da corrente e que depende de crédito", explica Lima Porto.
Segundo o diretor executivo da Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos), David Roquetti Filho, as entregas de fertilizantes, no entanto, começaram a se recuperar. O volume entregue em agosto será reportado somente no próximo dia 15, porém, julho de 2015 foi o segundo maior julho da história do setor, com apenas 0,15% abaixo do mesmo período de 2014. "Da mesma forma, Janeiro a Julho de 2015 foi o segundo maior acumulado deste período da história quando somente em 2014 foi maior. Embora com 7,7% de redução, observa-se que o ritmo da redução vem se reduzindo ao longo do ano", diz.
Roquetti explica ainda que essa escassez nos recursos de financiamento da safra modificaram, inclusive, os períodos mais fortes de comercialização no setor que, tradicionalmente, acontece nos meses de agosto, setembro e outubro.
"A diminuição da antecipação de compras por parte dos produtores se deu este ano em virtude da escassez dos recursos de crédito para o pré-custeio, volatilidade do câmbio, dentre outras variáveis. Ou seja, até antes de 2008, quando houve a crise financeira internacional, o setor entregava em média 65% do volume no segundo semestre e 35% no primeiro semestre. De 2008 a 2014, esse índice passou a uma média de 60% no segundo e 40% no primeiro semestre, chegando a praticamente 50%/50% em 2008", explica o diretor da Anda. "Ocorre que, em 2015, em virtude desse cenário, as entregas estão retomando a sazonalidade normal pré 2008", completa.
Ainda de acordo com um levantamento da associação, em uma série histórica de 1989 a 2014, a porcentagem de entregas no segundo semestre vem caindo 0,48% ao ano e, as que acontecem no primeiro semestre vêm subindo 0,78%/ano.
Para Antônio Henrique Botelho Lima, diretor da Andav (Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários) de Mato Grosso, boa parte desse atraso nas entregas se deve ao atraso nas compras. "E a preocupação maior este ano está naqueles produtores que ainda não adquiriram seus insumos, isso ajuda a somar no atraso das entregas", explica, também se referindo às dificuldades enfrentada pelos produotores no momento da aquisição de recursos para o financiamento.
Muitos agricultores, ainda de acordo com Lima, seguem buscando garantir seu crédito e se deparam com uma complicada liberação do dinheiro. "Muitos ainda estão terminando de costurar seu crédito", diz.
O diretor de MT da Andav explica também que setembro é um dos meses mais fortes para a entrega de fertilizantes e que a evolução do atual cenário irá depender de como as operações acontecerão, portanto, neste mês. Assim, o momento segue de indefinição e incerteza.
MT: Com atraso, aumento de área pode não se confirmar
Em Sorriso, maior município produtor da soja de Mato Grosso, apenas 20% dos fertilizantes foram entregues até o momento. O cenário é muito preocupante e pode, até mesmo, ocasionar uma quebra na produção, conforme explica o presidente do Sindicato Rural do município, Laércio Pedro Lenz.
"De modo geral, a comercialização dos insumos atrasou esse ano, em função da demora na liberação do pré-custeio, e está próxima de 70% a 80% na localidade. Os produtores costumam adquirir os insumos entre fevereiro, março ou abril, porém, esse ano, com a falta de recursos nos bancos as compras foram feitas mais tarde. Sem contar que ainda precisamos comprar cerca de 25% dos insumos, o que é um percentual elevado", destaca o presidente.
Em Tapurah, apenas 50% dos adubos foram entregues até o momento, segundo afirma o presidente do sindicato da cidade, Silvésio de Oliveira. "Em meio ao atraso na liberação do pré-custeio, as compras foram realizadas tardiamente e, consequentemente, impacta na entrega dos insumos. Contudo, acreditamos que a situação seja normalizada ao longo do mês de setembro", completa.
Na região de Sinop, o cenário não é diferente, conforme destaca o presidente do sindicato, Antônio Galvan. "O atraso nas compras foi muito grande, temos agricultores que ainda não compraram os insumos e alguns que adquiriram, mas que não irão receber. A situação é muito complicada, em especial aos arrendatários, que estão com custos ainda mais altos. A expectativa de aumento de área cultivada com a soja não deverá se confirmar no estado", alerta Galvan.
De acordo com informações do Imea (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária), a área destinada ao grão em todo o estado deverá registrar um incremento de 2,06% nesta temporada. No total, a projeção é que sejam semeados 9.203,560 milhões de hectares com o grão, contra os 9.017,860 milhões de hectares da safra anterior. A produtividade também será maior e totalizar 52,6 sacas por hectare, um aumento de 1,36% em relação à safra passada.
Com isso, os agricultores deverão colher 29.067,921 milhões de toneladas de soja na safra 2015/16. O número representa um ganho de 3,50% em comparação com a safra passada, na qual, os produtores colheram 28.085,241 milhões de toneladas.
Cooperativas favorecem as compras no Paraná e Mato Grosso do Sul
Em contrapartida, a situação é um pouco mais tranquila nesse momento, uma vez que boa parte dos produtores já adquiriram os insumos junto às cooperativas. Na região de Londrina (PR), o presidente do sindicato, Narciso Pissinati, sinaliza que em torno de 90% dos insumos foram comprados pelos agricultores.
"Grande parte dos produtores já está com tudo certo para o início da próxima temporada de soja. Muitos fizeram trocas com as cooperativas, o que, nem sempre, é favorável, mas o agricultor tem a certeza da entrega", ressalta Pissinati.
Na localidade de Ponta Grossa (PR), os produtores também realizaram as compras através das cooperativas. "Com a disparada do câmbio, os produtores acabaram adiantando as compras", diz Gustavo Ribas, presidente do sindicato.
Nesta temporada, os produtores deverão aumentar em 2% a área plantada com o grão, que deverá totalizar 5,202 milhões de hectares. A produção é estimada em 17,83 milhões de toneladas, um aumento de 5% em comparação com a safra anterior. As informações são do Deral (Departamento de Economia Rural), do governo estadual.
Já em São Gabriel do Oeste, no estado de Mato Grosso do Sul, o cenário é semelhante, já que boa parte dos produtores optou por compras por meio da cooperativa. Ainda assim, o presidente do sindicato da região, Júlio César Bortolini, explica que, os agricultores que realizaram compras diretas enfrentam o mesmo problema em relação ao atraso na entrega dos insumos.
"Entretanto, a grande maioria acaba realizando a negociação com as cooperativas, pois temos a certeza da entrega dos insumos e os custos são menores. Isso porque o poder de compra das cooperativas é maior", acredita Bortolini.
Por: Carla Mendes e Fernanda Custódio
Fonte: Notícias Agrícolas