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Recuperação do setor sucroenergético será lenta, avalia Agroconsult

09/11/2015 Nova mudança da Cide depende da CPMF e recentes altas do açúcar e do etanol trazem apenas alívio para uma indústria que deve R$ 80 bilhões A recente alta dos preços de açúcar a etanol neste momento traz apenas um alívio para a indústria de cana-de-açúcar e um processo de recuperação do setor deve ser considerado apenas no médio prazo. Foi a avaliação feita, nesta sexta-feira (6/11), pelo sócio consultor da Agroconsult, Fábio Meneghin, em conferência com jornalistas realizada via internet. Entre setembro e outubro, os preços do etanol hidratado recebidos pelas usinas do estado de São Paulo, maior produtor nacional, aumentaram 36,07% nas médias semanais medidas pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Em valores que não consideram a cobrança de impostos, o litro passou de R$ 1,1893 para R$ 1,6183. O indicador diário de preços do açúcar cristal, também medido pela instituição, registrou elevação de 35% só no mês de outubro. No último dia do mês passado, a cotação chegou a R$ 73,46 a saca de 50 quilos e, nos primeiros dias de novembro, a valorização já está próxima e 1,5%. Fábio Meneghin destacou que as cotações da commodity aceleraram a alta, especialmente, nos últimos três meses, equiparando a sua rentabilidade com a do combustível. Inicialmente, a expectativa era de uma margem entre 12% e 13% para o etanol e de 5% para o açúcar. Nesta sexta-feira, a Agroconsult estimou uma margem de 17% para os dois principais subprodutos da cana-de-açúcar. "Os negócios com açúcar estão acontecendo", disse, destacando preços em torno de R$ 70 a saca diante de um custo de produção em torno dos R$ 40. Os resultados positivos deste ano, avaliou o consultor, devem ser usados prioritariamente para a indústria "arrumar a casa" diante de uma dívida calculada em R$ 80 bilhões. De acordo com Meneghin, nos piores momentos da crise, o caixa das empresas mal dava para pagar os juros desse endividamento, equivalente a uma safra inteira. Diante da situação, ele acredita que o processo de recuperação do setor será lento, partindo da reorganização financeira das empresas, passando pelo tratamento dos canaviais, reforço da capacidade atualmente instalada - incluindo reabertura de usinas que estiveram paradas - e, como último passo, a construção de novos parques industriais. Decisões do governo A cadeia produtiva ainda reivindica e espera por decisões do governo que tragam melhor remuneração, especialmente para o etanol. Quer, por exemplo, a cobrança ainda maior da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) sobre a gasolina, o que elevaria os preços do derivado de petróleo, influenciando o combustível de cana. Fábio Meneghin acredita que a chance de um novo aumento da cobrança é maior se o governo não conseguir a aprovação da nova CPMF, o imposto sobre as movimentações financeiras. "O setor ainda tem um pé atrás muito grande em relação à atual política do governo (reajuste da gasolina e retomada da cobrança da Cide), mas há alguns pontos que nos permitem acreditar que vai permanecer", disse Meneghin, lembrando, por exemplo, dos compromissos de redução de emissões de gases de efeito estufa assumidos pelo governo brasileiro. "Para atingir essa meta, tem que estimular o etanol", argumentou. Crescimento da moagem Em meio a um cenário que melhor rentabilidade, o processamento de cana-de-açúcar na safra 2015/2016, que termina em março do próximo ano, deve chegar a 600 milhões de toneladas só no Centro-sul do Brasil. O volume representa um aumento de 4,5% em relação ao registrado na safra 2014/2015, quando passaram pelo maquinário das usinas 575 milhões de toneladas. O nível de Açúcares Totais Recuperáveis (ATR) por tonelada de cana deve ser de 132,7 quilos. Na temporada passada, foi de 137,7 quilos por tonelada. Com um mix ainda mais alcooleiro (58% a 42%) do que na safra 2014/2015, a produção de etanol (somados os volumes de anidro e hidratado) deve encerrar o atual ciclo com um crescimento de 1,2%, passando de 26,5 bilhões para 26,8 bilhões de litros. A produção de açúcar deve permanecer estável em 32 milhões de toneladas. "É a safra mais alcooleira desde a de 2008/2009, quando houve o pico de 60% para etanol", disse o consultor. Próximo ciclo Para o ciclo 2016/2017, os números apontam para uma moagem entre 615 e 630 milhões de toneladas, que representariam um crescimento de 2,5% a 5% em relação ao ciclo atual. Um dos motivos é o atual ritmo de rebrota da cana nas lavouras que, conforme Fábio Meneghin, é o melhor desde 2010. Outro é a possibilidade de as indústrias processarem até 20 milhões de toneladas durante a entressafra, a chamada cana bisada, que tende a não ir para as moendas na safra atual e sobrar no campo. "Se o clima no verão ajudar, as usinas vão moer. Há usinas que vão emendar uma safra na outra", disse, lembrando que, na safra 2009/2010, 26,5 milhões de toneladas de cana foram moídas na transição de uma temporada para outra. A Agroconsult considera que a próxima safra deve apresentar maior rentabilidade para o açúcar do que para o etanol, com margens calculadas em 20% e 14%, respectivamente. De acordo com Fábio Meneghin, os preços internacionais da commodity tiveram forte alta porque pela primeira vez em vários anos, há uma expectativa de déficit de oferta global. Mas isso não deve significar uma inversão do mix de produção das usinas do Centro-Sul do Brasil na próxima safra. A produção de açúcar na próxima safra é estimada entre 32,9 milhões (+2,8%) e 33,7 milhões de toneladas (+5,3%) enquanto a de etanol deve variar de 27,8 bilhões (+3,6%) a 28,5 (+6,2%). "Como tem mais liquidez que o açúcar, as usinas produzem mais, principalmente quando precisam fazer caixa. E hoje tem usinas que só produzem etanol", lembrou o sócio consultor da Agroconsult. Esses níveis de produção devem ser possibilitados por um nível de Açúcares Totais Recuperáveis (ATR) de 134,5 quilos por tonelada de cana. Raphael Salomão Fonte: Globo Rural\NovaCana