25/09/15
O produtor mato-grossense teve mais uma boa janela de oportunidades para comercializar parcelas de sua produção de soja e de milho no mercado futuro com preços mais remunerados. Com o dólar operando em recorde durante boa parte desta quinta-feira (24.09), acima de R$ 4,20, a praça de Sorriso (420 quilômetros ao norte de Cuiabá), município que oferta a maior produção mundial da oleaginosa, registrou preço histórico no mercado a termo: R$ 68 para entrega em maio do próximo ano. Acompanhando o dólar, o milho também recebeu oferta de R$ 20 para entrega em julho de 2016.
"Até semana passada, nenhuma bolsa de apostas poderia prever o dólar rompendo já em setembro o teto de R$ 4, a soja se aproximando de R$ 70 no mercado a termo em Sorriso, cidade tão prejudicada pela distância logística e tão pouco uma oferta de negócio a R$ 20 ao milho", avalia o diretor administrativo e financeiro da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Famato), Nelson Piccoli.
Em Mato Grosso, não há segmento da economia mais atento à performance do dólar do que o agronegócio, não apenas pelas recentes quebras de recordes de valorização da moeda norte-americana em detrimento do real, mas também pelo momento. O produtor está comercializando a produção de soja e planejando as compras da segunda safra e já ofertando parcela do milho no mercado futuro. Por enquanto, a forte ascensão do câmbio tem efeito positivo e surpreende o segmento a cada fechamento de pregão. Quando se apontava para um cenário de ruptura da casa dos R$ 4, ninguém espera que esse teto fosse ser rompido ainda no setembro negro. "As apostas davam como certa que essa guinada seria conseqüência de uma turbulência ainda maior no governo federal, decorrente de uma grande crise ministerial e até mesmo da queda da presidente Dilma", explica Piccoli. Mas como afirmam os produtores, essa trajetória que parece ilimitada do dólar, "tipo para o alto e avante" só mostra que a credibilidade política e econômica do país reduz na proporção inversa da variação do dólar diante do mercado internacional.
"Para a maior parte dos produtores a alta da cotação do dólar é benéfica para a comercialização da saca, mas pode prejudicar quem ainda tiver feito compras de insumos em dólar e não tiver quitado a dívida", explica Piccoli. Outro ponto destacado é que o dólar, mais do que ficar aumentando, precisa se estabilizar, pelo menos, até o final da colheita. "Não adianta um dólar alto agora e que venha a cair na hora de o produtor vender a sua produção porque ai ele terá pago um insumo caro, valorizado pelo dólar, e vai vender mais barato".
Ainda como avalia Piccoli, a atual majoração da cotação do dólar pesa sobre o planejamento da safrinha do milho nesse momento. "Com o fim do Vazio Sanitário, o produtor só espera pelas chuvas para plantar a safra de soja, então, podemos dizer que 100% dos insumos da cultura estão garantidos e com seus valores travados. Já para a safrinha que vai ser plantada na medida em que a soja for colhida, de meados de janeiro em diante, o momento é de tomada de decisão. O produtor está planejando o que vai plantar, produtos e tecnologia a serem empregados e justamente nesse momento o dólar está encarecendo e muito, os insumos para o plantio do cereal".
DISPONÍVEL - Conforme histórico de preços do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), para quem ainda tem soja da safra 2014/15 disponível para comercializar o ganho anual sobre as cotações pode chegar a R$ 17. Considerando a praça de Sorriso, em 24 de setembro do ano passado, a saca foi comercializada entre R$ 53 e R$ 55, anteontem, no dia 23 de setembro de 2015, a cotação era de R$ 72 e batendo R$ 76,50 em Rondonópolis, praça com a melhor cotação do Estado. A saca da soja no mercado disponível em algumas praças do Estado supera a cotação da arroba do algodão.
E o termômetro de que os preços são favoráveis às planilhas do produtor é o volume de soja já travada antes mesmo da safra estar plantada. Conforme os analistas do Imea, em agosto foram negociadas 3,2 milhões de toneladas de soja da safra 2015/16 elevando a comercialização futura para 40,1%. Com os volumes de agosto, a safra nova soma 11,7 milhões de toneladas negociadas de forma antecipada, no mercado a termo - ou seja, com preço e data de entrega fixados -, movimentação que supera, e muito, as 3 milhões de toneladas que estavam vendidas de forma futura na safra passada, até agosto de 2014. "O alto número de negócios futuros fechados para a safra 2015/16 pauta-se principalmente nos preços remuneradores que o mercado vem ofertando. Em agosto, por exemplo, o preço médio de venda foi o maior desde o início das negociações da safra 2015/16, de R$ 57,97 a saca, superando em mais de R$ 16, os valores de 2014".
Diário de Cuiabá
Autor: Marianna Peres