Armazenagem pode garantir aumento no valor da comercialização de grãos
Produtores podem se beneficiar com a estratégia de armazenar a colheita e aguardar um momento mais propício no mercado
A falta de estrutura e baixa capacidade de armazenagem de grãos exerce grande influência no setor agrícola brasileiro, que é compelido a acelerar seus processos de comercialização, prejudicando os produtores que poderiam optar por guardar a colheita para a venda em um período mais favorável. Pesquisas realizadas pelo ESALQ-LOG - Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial, indicam que a armazenagem pode ampliar consideravelmente os valores obtidos na comercialização da produção.
Segundo o pesquisador Fernando Rocha, “o Brasil vem registrando importante crescimento na produção de grãos nos últimos anos, e a armazenagem pode ser utilizada como estratégia para o aumento da receita por produtores e exportadores”. Os dados do SIARMA – Sistema de Informações de Armazenagem, projeto desenvolvido pelo ESALQ-LOG, consolidam as principais informações a respeito da armazenagem no Brasil. Em uma análise histórica, no período entre 2007 e 2016, nota-se que a armazenagem trouxe benefícios aos exportadores em 70% dos anos analisados. Uma versão dos estudos realizados pelo Grupo, dentro do Projeto SIARMA está disponível no site do ESALQ-LOG.
De acordo com Rocha, no ano de 2016 os produtores que colheram a soja no mês de fevereiro, tiveram como melhor período para a comercialização dos grãos o mês de junho, em que foi observado um aumento de até R$ 280,00 por tonelada na receita dos produtores, comparado ao cenário de venda da produção no mês da colheita. “Ainda na mesma análise, considerando a localidade de Sorriso (MT), o custo da armazenagem corresponde a 3% do preço da soja no mercado internacional e para fins comparativos, o transporte rodoviário corresponde a aproximadamente 19% do preço da soja”, explica o pesquisador.
Rocha ainda ressalta que, no caso da soja, o benefício da armazenagem é mais evidente para produtores que colhem nos meses de fevereiro e março. Em linhas gerais, para os grãos colhidos no mês de janeiro, a utilização da armazenagem é mais arriscada, dado o histórico de oscilação de preços no mercado internacional.
Outro fator que deve ser considerado nesse sentido é a necessidade de investimento em capacidade estática para o armazenamento da produção. “Existe uma demanda reprimida por espaço nos armazéns brasileiros, o que abre oportunidades para novos players entrarem nesse mercado ofertando o serviço de armazenagem”.
O aumento da capacidade de armazenagem geraria uma série de melhorias, principalmente nos valores de fretes. Como o país tem um grande déficit nesse sentido, os produtores sentem a necessidade imediata de movimentar os grãos, o que aumenta a demanda por serviços de transporte, e consequentemente, o aumento nos patamares de fretes.
O milho safrinha também influencia, pois, a colheita que será realizada nos próximos meses demanda grande quantidade de caminhões nas fazendas. “Esses caminhões que eram direcionados para as zonas portuárias e para o abastecimento do mercado interno acabam indo para a fazenda para fazer a movimentação primária até os armazéns”, explica Samuel Neto, economista e pesquisador do ESALQ-LOG. Segundo Neto, depois do período de colheita, o frete tende a começar a recuar, mas devido ao grande volume de milho e soja que ainda tem para ser exportado, esse recuo não vai ser tão significativo até dezembro.